A historiadora, intelectual brasileira Sandra Jatahy Pesavento disse um dia que “as fronteiras, antes de serem marcos físicos ou naturais, são sobretudo simbólicas. São marcos, sim, mas sobretudo de referência mental que guiam a percepção da realidade. São produtos desta capacidade mágica de representar o mundo por um mundo paralelo de sinais por meio do qual os homens percebem e qualificam a si próprios, ao corpo social, ao espaço e ao próprio tempo”. Cultura é algo forte. Acredito assim que Mato Grosso do Sul já tenha sua identidade cultural própria e que vem das nossas fronteiras que infelizmente ainda são discriminadas e chamadas apenas de territórios “livres” para o contrabando e o tráfico. Puro engano! Devemos ter orgulho dessa mistura maravilhosa cultural que temos.
A prova clara disso foi o evento realizado na semana passada em Ponta Porã (fronteira com o Paraguai – Pedro Juan Caballero), que através da Fundação de Cultura do Município, foi promovida a “Festa das Nações”, com a participação vários países, cada um com sua cultura de excelência. Mas o interessante é que não foram apresentadas apenas a música, comida típica, artes plásticas, dança ou mesmo a literatura. O fundamental é que existiu por parte dos organizadores do evento, discutição sobre a nossa verdadeira identidade cultural que é oriunda de nossa fronteira sim. Artistas, intelectuais, políticos, professores universitários, jornalistas, chefs de cozinha, estudantes, estiveram discutindo amplamente o tema e dando suas opiniões claras sobre esse assunto que não é novo, mas que finalmente despertou essas pessoas, que são muitas vezes isoladas dos grandes eventos.
A Festa das Nações de Ponta Porã antes de tudo foi um verdadeiro “grito da fronteira” em dizer que estão vivos e que necessitam ser vistos e apoiados com suas manifestações. Nós sul-mato-grossenses não necessitamos de buscar uma origem típica cultural. Ela está nos traços dos artistas visuais, na dança, teatro, literatura e principalmente da música. Temos sim que cravar nossa marca através da nossa cultura fronteiriça, pantaneira e pronto. Nossos costumes são esses e devem ser respeitados e valorizados. Somos do churrasco com mandioca, do arroz carreteiro, chipa, sopa paraguaia, do tereré, da polca, guarânia, polca-rock, blues rasqueado e de todas as influências do Paraguai e Bolívia. Somos cidadãos sul-mato-grossenses e temos que nos orgulhar disso. Não somos do funk ou aqueles que ainda insistem em dizer que tempos influência do sertanejo universitário (jamais).
É fundamental que nossos governantes apoiem cada vez nossos valores, os artistas em todas as suas áreas. Os encontros, festivais, eventos devem ter a marca do Mato Grosso do Sul. Outros artistas com representatividades nacional participam desses “eventos culturais”, não permanecem nem um dia no Estado, não deixam nada culturalmente para a população do Estado. Necessário sim, pensar mais e fazer desses festivais ou feiras, algo com pelo menos 90 por cento de artistas regionais, como ocorrem no sul do país, norte e principalmente no nordeste.
O exemplo foi a participação dos artistas da fronteira nesse evento de Ponta Porã. Foram valorizados e não deixados de lado. A Fundação de Cultura de Ponta Porã, o IFMS (Instituto Federal do Mato Grosso do Sul - campus PP), Conselho Municipal de Cultura, e a administração municipal deram uma verdadeira aula de como se pode fazer algo bom, organizado e não com tanto recursos assim. A população foi ao local para “consumir o produto regional fronteiriço”. Foram três dias de resgate cultural que com certeza para o próximo ano será melhor ainda. Parabéns a todos os organizadores!
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