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Poesia - A Serpente, por Isaac Ramos

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com A Serpente.


A SERPENTE


Uma gota de céu azul me engoliu.

Essa gota pintava tanto sobre o meu corpo

Que o sol despejou-me olhos de arco-íris.

O tempo fechou sobre as maças do meu rosto.

E o mesmo vento que levou as flores murchas do outono

Trouxe consigo o inverno no seu corpo.


Um silêncio gelado expõe as nossas peles ao relento

E isso ressalta as ranhuras do nosso estado.

A que ponto chegou a aridez!

Pálida. Grotescamente pálida.

Nem uma brisa para embalar o nosso réquiem.

Nem uma ode para celebrar a vida que é breve.

Breve como foi nossa sinfonia exangue.


Será que fomos talhados por desejos insanos?

Não. Seguramente estou perdida.

A mesmo pessoa que se fez pudica

Hoje se mostra interesseira.

Nos momentos difíceis converso com os pássaros;

Eles não se fazem de moucos.

E assim feito crisálida me desfaço do casulo.

De nada mais me adianta ser bicho da seda.

Não consegui fiar a nossa relação,

Muito menos tecer os fios da nossa renda.

O filão dos encantos perdeu o viço,

Por isso, desfolho-me diante do veio.


Nesse intervalo um desfiladeiro me achou.

Jogou-me uma queda d’água

Que como espetáculo não se concretizou.

Talvez uma mísera mortalha produzisse melhor efeito.

Nuvens viajam diante do acaso,

E o céu devolve as cinzas dos nossos pecados.

Chuva ácida, chuva que corta.

Uma estrela morta pinga uma luz opaca

E os meus olhos refratam o fio da ameaça.

Quisera eu ser luz e não anátema

Pois te mostraria que a melhor companhia para um homem

Não é a mulher que passa

Mas a serpente que ataca.

36 visualizações2 comentários

2件のコメント

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Adriano Perceguini
Adriano Perceguini
2023年7月24日

Começando bem a semana! Excelente poema.

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isaacramos3
isaacramos3
2023年7月24日
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Obrigado, meu aluno e assíduo leitor.

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