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Foto do escritorAlex Fraga

Poesia - Ressaca, por Isaac Ramos



Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professora, poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com "Ressaca".


RESSACA

(Isaac Ramos)


Conduzo minha pena como um objeto fálico

Com ela intumesço cada tanto de palavras

Vibro estoicamente o arco que consola e embala

Nesse embalo vou regendo a última sonata.


Oh, deuses do panteão!

Desfaça-me desses sonhos virgens de menino

E nesse desembaraço de frases que embaçam

Fazei-me locupletar de frases sem rimas fáceis

Fazei-me entorpecer de versos tortos que embriagam

Fazei-me doidejar com uma metáfora errática

E se nenhum efeito me causar

É porque este poema está com defeito.


Desfio a lírica que acasala e engata

Procrio filhos profiláticos

Solto silvos sifilíticos

E se profano matronas em leitos de sintaxe

Ou extraio gritos espasmódicos

Não é que sejam vulgívagas empoemadas

Ou porque fecundam fetiches

Como se fossem varizes

Em páginas brancas

Mas sim porque o corpo desnudo de um poema

Não resiste a uma sintaxe sacana.


Palavra a palavra solto o líquido plasma

Não mais um obscuro desejo de poeta

Pouco a pouco me desfaço

Da roupa que encasula

Ergo-me

Solto um profundo suspiro

Sobre o lençol de poesia

E vejo nos teus olhos

A ressaca da lírica perfeita.

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