Manoel de Barros continua mais vivo do que nunca com seus poemas e reflexões de um poeta que estava sempre além do tempo. Neste "O poeta" ele mostra entre sílabas a sua arte.
Dizer que não existo propriamente dito Que sou um ente de sílabas. Vão dizer que eu tenho vocação para ninguém. Meu pai costumava me alertar: Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som das palavras Ou é ninguém ou é zoró. Eu teria treze anos. De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que se perdia nos longes da Bolívia E veio uma iluminura em mim. Foi a primeira iluminura. Daí botei meu primeiro verso: Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem. Mostrei a obra pra minha mãe. A mãe falou: Agora você vai ter que assumir suas irresponsabilidades. Eu assumi: entrei no mundo das imagens. . - Manoel de Barros, no livro "Ensaios fotográficos". Editora Record, 2000. . imagem: Manoel de Barros. foto: ©Marcos Leonardo/Editora Globo
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