Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão com a historiadora, professora universidade, poeta e escritora de Dourados MS, Joana Prado Medeiros, com seu Diário de uma Idosa 251.
O GATILHO...
Recordei um ano novo, todos nós em casa, éramos cinco, eu, meu irmão e meus pais e o Sentinela nosso cachorro...Minha mãe, na cozinha temperando um assado para o dia seguinte, meu pai na varanda ouvindo Zilo e Zalo (dupla sertaneja) enquanto assava carne, meu irmão brincando com o Sentinela e eu na rede tentando conversar. A meia noite meu pai me pegou pela mão e fomos até um descampado cheio de árvores e capim, ele tirou da cinta o revólver 38 e disparou para cima alguns tiros, me passou o revólver e eu segurei com as duas mãos e com dois dedos e lutava para apertar o gatilho não tinha forças, ele teve que me ajudar, fiquei contente quando o estampido saiu e com dor nos ombros foi um baita solavanco. No mato que vivíamos só o som de tiros ouvimos. Ele me ensinava que o som de tiro era seco, diferente dos sons de fogos. Depois nos reunimos em volta da mesa rezamos e brindamos. Meu irmãozinho, dizia ano que vem já irei conseguir atirar, meu ria ainda demora filho és mui pequeno. Depois, fomos dormir e o amanhã era acordar cedo para receber os parentes e os compadres para a festança, o vinho tinto marcava as toalhas, os guardanapos e a mesa. A tardinha eu via mãe fazendo chá pois meu pai passava mal, ficava aos pés da cama achando que ele iria morrer...No dia seguinte o ano recomeçava tinha cheiro de café, vinho, carvão e carne. O quintal se vestia de água e limpezas...E tudo seguia de pronto, meu pai no bolicho, minha mãe na máquina de costura. E nesse Ano Novo de 2025 passei longe dos meus e recordei essa cena, chorei muito. Não uso armas, sou contra armas, no obstante, quantos tiros disparo? Quantos balaços recebo?
( Joana Prado Medeiros - 07/01/2025 h Direitos Autorais Lei 9.610, 19/02/98)
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