Um texto reflexivo e de muita sensibilidade escrito pela professora universitária, historiadora, escritora e poetisa ímpar, de Dourados (MS), Joana Prado Medeiros. Toda semana será publicado um texto no Blog do Alex Fraga. Inicia-se com “Madrugada”.
Enquanto quase todos dormem... Eu vivo e sinto a brisa da madrugada fria, despindo estrelas cobertas e descubro frisas em meu respirar... Vejo o céu tinto de minhas andanças recoberto de luz e matizes... Enquanto os afazeres domésticos aguardam, o arroz integral marinando... A carne separada e o almoço de amanhã planejado... Para o amanhã dos meus... Eu vivo!!! Enquanto minhas plantas renascem sob a água bendita que eu depositei... A casa organizada e silenciada, as contas postadas cada qual no seu cada qual "as não pagas e as devidamente pagas" arre égua e suor... Eu conto as contas de meu rosário e vivo... Quando todos dormem eu canto e só aí posso, finalmente, ouvir jazz e leio estarrecida de sonhos trechos dos livros amados... Enquanto os filhos saem pela noite à dentro e vivem lá fora sonhos lambuzados de crenças alegrias e dores...Cá dentro eu vivo...Depois que ninguém irá me chamar... Então, busco sons, jazz, rock, minhas velhas e renovadas canções de dores e amores vividos benditos, profanos e perdidos... Por fim, abraço um chocolate e vivo... Enquanto é madrugada eu vivo e olho o céu e minha alma treme ao pensar em tantas cheganças e tantas partidas... E o meu coração se junta com meus pés que na rede do tempo balança... E minhas mãos se juntam orando o credo da esperança e feito enfeite me benzo... Eu vivo... É eu vivo... Acho que vivo... Minha gatinha Manu se enrosca em mim...
(Joana Prado Medeiros) Pandemia. Janeiro/2021
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