Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de texto de reflexão da escritora, poeta, professora universitária e historiadora, Joana Prado Medeiros, com "O bordel que sonhei".
O BORDEL QUE SONHEI
Quando eu tinha onze anos, depois de ter sido ferida de morte, entrei em uma teia de aranha cinza. Ficava horas tecendo e engolindo choros ( foi nesta época que comecei a mastigar maçã no escuro) na verdade essa época foi de inaugurações de várias coisas, comecei a ler os clássicos da literatura portuguesa também da literatura brasileira, enfim, aos 13 anos me apaixonei por Sartre e gostava de árvores secas as desenhava em todos os meus objetos. Eu era cinza enxergava cinza, me confessava existencialista e amante da morte, achava que iria morrer jovem e me despedia da vida com um certo ar de superioridade tipo você é pouco para mim. Bom, o fato é que eu escrevia poesias e textos. Sonhava em ser uma prostituta elegante, famosa, culta e escritora, sonhava em ser uma dama amante de um lord inglês e dona de um bordel, bem chique, com rendas, chapéus, pérolas, vinhos e poesias, romances e arranjos políticos. Imaginava um antro com cheiro de tabaco, perfumes, bebidas, coquetéis regando lascívia; com noites temáticas tudo com muita arte e cultura. Que lástima não consegui ser essa prostituta tão amada por mim. E aos 67 anos lanço meu primeiro livro (de uma série de muitos por vir oxalá) O sentimento desse lançar realmente é de lança...Lançando...Senti e sinto um estranho torpor. Um treco enviesado dentro do peito me sinto nua o meu euzinho está aí na copas das árvores, nas estantes, na cama, no carro e sei lá eu onde mais. Sério mesmo, lançar um livro é algo medonho o seu eu fica escancarado. No primeiro momento a dor do parto partido me causou alegria e neste segundo momento estou de regresso à minha teia de aranha cinza e estou com um medo medonho de medonho, medonhado. E agora o livro já foi lançado?
( Joana Prado Medeiros - 09/07/2024 Direitos Autorais Lei 9.610/98
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