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Texto/Poesia - Maria Antonieta, por Raquel Naveira

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • 3 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 3 de abr.


Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de Texto/Poesia com a escritora e poeta de Campo Grande (MS), Raquel Naveira, com Maria Antonieta


MARIA ANTONIETA

Raquel Naveira


Sempre fui apaixonada pela história trágica da rainha Maria Antonieta. Maria Antonieta nasceu em Viena, Áustria, em 1755, filha do Imperador Francisco I e de Maria Teresa. Casou-se com o delfim da França, mais tarde Luís XVI. Esse casamento tornou-a o centro das intrigas relativas à aliança austríaca, criando-lhe muitos inimigos. A jovem e inexperiente princesa pouco fez para pôr termo ao estado de coisas que se criara, agindo, pelo contrário, de modo a agravá-lo, após a ascensão do marido ao trono, imiscuindo-se em questões políticas. Seis meses apenas depois de ter-se tornado soberana, os ataques contra ela se avolumavam. O favoritismo que dispensava aos amigos, os gastos inúteis que fazia, a conduta escandalosa nos negócios públicos, constituíam fatores que comprometiam sua reputação.

A situação financeira aflitiva do povo francês, provocada por ministros corruptos escolhidos por ela, transformou-a no símbolo do ódio popular pelo regime vigente.

A revolução se aproximava. Em 14 de julho de 1789 houve a queda da Bastilha. Quando o rei e a família foram removidos de Versalhes para as Tulherias, Maria Antonieta compreendeu que estavam condenados. Os membros da corte francesa fugiram de Paris e as monarquias da Europa, alarmadas com o rumo que os acontecimentos tomavam na França, consideraram a possibilidade de uma intervenção.

Maria Antonieta, através de emissários secretos, implorou ao irmão que enviasse um exército austríaco para salvar a família real. Dois anos se passaram e como os socorros não vinham, ela decidiu fugir da França. Partiu numa noite com a família, sob disfarce, para Malmédy, na fronteira oriental, mas foram detidos e obrigados a voltar a Paris. Tal fato serviu para aumentar as suspeitas de traição que pesavam sobre ela e o marido. A hostilidade do povo parisiense se intensificava, as Tulherias foram invadidas e a rainha sujeitada a humilhações extremas. Nos últimos meses de 1793, removida para a Conciergerie, ela demonstrou fortaleza de ânimo. Enquanto se encontrava na prisão, fizeram-se duas tentativas de salvá-la. Todavia, foi conduzida ao tribunal revolucionário e acusada de traição. Morreu na guilhotina.

Sophia Coppola conheceu a biografia de Maria Antonieta em 2000, através da historiadora francesa Evelyne Lever. Na época, Sophia adquiriu os direitos de adaptação do livro para o cinema. Lever trabalhou como consultora técnica do filme, preparando um dossiê sobre a rainha, de forma a evitar erros sobre sua história.

O governo francês concedeu à equipe de filmagens uma permissão especial para que ocupasse o Palácio de Versailles. No célebre Salão de

Espelhos foi rodada a deslumbrante cena do baile de casamento entre Maria Antonieta e Luís XVI. O filme foi vencedor do Oscar de Melhor Figurino.

Kirsten Dunst é perfeita no papel de Maria Antonieta: alva como um lírio, entediada, adolescente, fútil, alienada, manipulada por forças superiores a ela, buscando, com todas as forças, aprender a viver e a sobreviver. Envolvida em rígidas regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares, intrigas insuportáveis, exilada e sozinha, ela decide criar um universo à parte, no qual pode se divertir e aproveitar a mocidade. Enquanto isso, fora das paredes do palácio, sem que ela se dê conta, a revolução ferve como uma caldeira prestes a explodir.

Roupas, jóias, perucas, sapatos, carruagens, cavalos, louças, biscoitos (os famosos “brioches”), bolos, bebidas, bolhas de champanhe, tudo gira e espuma na tela. A trilha tecno do filme sugere que é, antes de tudo, um filme sobre os perigos da adolescência, quando somos incapazes de avaliar o peso dos nossos atos, provocando efeitos e desdobramentos muitas vezes surpreendentes e desastrosos em nossas vidas e nas vidas das pessoas que nos rodeiam.

O filme dá aquela sensação de que termina na melhor parte, que ficou inacabado, pois não conta o trágico e conhecido fim da rainha. Parece que faltou alguma coisa, mas é essa falta que gera a polêmica, o recorte particular, a obra aberta. É o olhar moderno e inteligente de Sophia Coppola.

Um filme de alma feminina, de uma estética magnetizante, que conseguiu mostrar um ângulo novo para duas antigas histórias: a da rainha e a da adolescência perdida de cada uma de nós.

Pensando na infeliz Maria Antonieta, criei o poema:


Sonhei que era Maria Antonieta,

Tinha um castelo perfumado

Como uma flor na floresta;

Tinha uma sala de espelhos

E lagos para ver minha silhueta;

Tinha um palco de seda

Para representar uma opereta;

Tinha um colar brilhante

Como a cauda de um cometa;

Tinha bolos e licores

Para os convivas de minha saleta;

Tinha criados que me anunciavam,

Inclinados ao som de uma trombeta;

Tinha o ar frio e distante

De uma intrigante estatueta;

Tinha um vestido branco

Para dançar no bosque como uma ninfeta;

Tinha um sonho de colombina

Feito de voo e pirueta;

Tinha tanta fortuna

O meu sonho de Maria Antonieta...


Terá sido em hora importuna?

Terá sido recordação funesta?

Onde a festa?

O fausto?

Nada mais resta...

Coube-me um canto de sarjeta

E o ressoar estranho

De uma risada do capeta.

 
 
 

6 comentarios

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Sidnei Manoel Ferreira
há 7 dias

Texto maravilhoso. Parabéns, talentosíssima Raquel!!!

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Invitado
04 abr
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Que delícia rever a história pelas mãos Poéticas da Raquel! Parabéns!

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Invitado
04 abr
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Fantástica.

Lourdes de Paula

Campo Grande MS

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Invitado
04 abr
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️😍😍😍😍

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Silvio Santana de Souza
04 abr

Raquel está sempre reescrevendo a história. É a história revistada por uma alma eminentemente feminina.

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